Já digitei e redigitei frases para começar essa crítica e isso me faz confessar que não sei por onde começar. O fato é que não fui completamente fisgado pela história de Action Comics #1, com roteiro de Grant Morrison e desenhos de Rags Morales.
A apresentação mostra de cara um Superman mais próximo do original, ou seja, aquele cara que era bruto e que tinha como alvo qualquer coisa errada e não só ameaças alienígenas ou déspotas cósmicos. Ele age contra qualquer injustiça social e de modo curto e grosso. Ele escolhe de cara o homem mais poderoso de Metropolis para dar o seu recado à cidade - e não é quem você está pensando - o de que se as pessoas não forem tratadas dignamente, ele fará uma visita a quem não fizer isso.
Essa maneira mais direta e explosiva de Superman agir fica interessante pra mim a partir do momento que eu penso "como seria a adaptação do Superman original para os dias de hoje?". Tirando isso, não consigo ver como pode competir com o paladino, cuja imagem foi praticamente criada com o personagem interpretado por Christopher Reeve nos cinemas e que foi reforçada por John Byrne nos anos 80. E antes que algum advogado de cronologia venha me criticar, lembre que o Superman antes da Crise nas Infinitas Terras era uma colcha de retalhos, afinal, é só lembrar das capas absurdas estreladas pelo personagem onde ele faz pouco de Lois, Jimmy e qualquer outro que estivesse ao seu redor; então não, nem sempre ele foi o grande cavaleiro em cima de um cavalo branco.
E a imagem de esperança perpretado por Reeve e Byrne e tão perfeita e forte que me faz ter dúvidas quanto ao "Superman clássico retrabalhado nos dias de hoje". Nas mãos de Grant Morrison? Ok, vou dar o crédito. E aí fica a torcida para ninguém mais botar a mão na revista enquanto ele não contar o lance de "mostrar como ele saiu do garoto caipira e virou o herói com a armadura ridícula e desnecessária". Aposto o toba (brincadeira!) de que esse Superman caipira será mais interessante do que o enlatado.
Em seguida, quando a polícia de Metropolis tenta prender o kryptoniano, somos apresentados a alguns detalhes de como ele é visto pela humanidade, como por exemplo, uma citação sobre a visão de um certo jornal metropolitano sobre ele. Morrison tenta colocar as pistas e desenvolvimento maior no meio da ação. Isso é legal, mas se feito em três, quatro, cinco edições seguidas, sem tempo de respiro para o leitor, cansa. E fico preocupado com esse detalhe porque Justice League #1 é ação (mal feita) desenfreada e aqui acontece o mesmo. Se a tendência é ter ação o tempo todo como modo de capturar a atenção da molecada, fico com o pé atrás com esse novo universo DC. Precisa haver cadência, precisa do "efeito montanha russa" onde temos momentos de tensão e momentos mais relaxantes, que são geralmente aqueles em que o leitor pega o verdadeiro desenvolvimento de histórias e personagens. Claro, ação e desenvolvimento de histórias combinam e deve ser feito, mas é uma arte dominada por poucos roteiristas e quando temos 52 revistas na linha e não temos nem um terço disso de "Grant Morissons", fica difícil aceitar.
Logo depois, vemos que o general Sam Lane trabalha em conjunto com o cientista Lex Luthor - este, no caráter de consultor - e que ambos estão tentando capturar Superman. Não vi a vilania de Luthor nessa edição. Vi alguém que tem um argumento sólido para fazer o que está fazendo - a explicação dos animais fora de seu habitat - e nada mais do que isso. Ok, ele é genial a ponto de fazer seu plano dar certo - no final da edição - mas é isso. Embora ele tenha um bom peso nesta edição, a estrela ainda é o Superman e mesmo ele ainda fico ressabiado.
Luthor consegue levar Superman até construções marcadas para demolição que são usadas como abrigo por pobres. O fato de demolirem o lugar com gente ainda dentro acho inverossímel demais. Nenhuma prefeitura permitira isso. Luthor tem tanto pode assim para usar um cenário desse sem as consequências que uma investigação jornalística pode trazer? Não parece, já que Sam Lane o ameaça de acabar a prestação de serviços se resultados não vierem logo. Luthor quis atrair a atenção do herói, obrigando-o a ficar em algum lugar para assim os tanques do exército tentarem pará-lo. Luthor sabe que não irão, então parece mais que o vilão está estudando-o do que qualquer outra coisa, vide o recurso diferente usado por um dos tanques, o que não é surpresa se vermos a sigla usada para o modelo do tanque.
Essa sequencia serve também para mostrar a real extensão dos poderes do homem de aço em seu início e também que nem todas as pessoas são contra ele.
Ao escapar dos tanques - bem machucado, diga-se de passagem, conhecemos Clark Kent, o jovem adulto que paga aluguel - e está atrasado! - de um apartamento não muito convidativo. Não pude deixar de ver Peter Parker ao invés de Clark Kent ali, o que ficou meio estranho pra mim. Não ruim, mas estranho.
Clark tem um visual desleixado, o que pode servir no lugar de Clark se fingir de atrapalhado - clássica abordagem - pois um imponente e todo poderoso super-herói não poderia ser assim na visão das pessoas comuns, principalmente de um certo careca. A única coisa que me incomoda é que na maioria das vezes ele parece uma versão crescida de Harry Potter, só faltando o raio na testa. Paranóia minha ou não, a sensação piora quando vemos Jimmy Olsen, que poderia ser muito bem um dos irmãos Weasley, o que pra mim reforça a ideia de que estão usando características subliminares para atrair a molecada.
Falando em Jimmy, o conhecemos junto com Lois Lane, filha do general Sam Lane. Os dois trabalham para o Planeta Diário, como de costume, mas Clark não. Ao colocar o alienígena de Smallville em um jornal rival, a tensão e competitividade entre os dois foi alçada a outro patamar. Isso é um recurso interessante, que permite mais conflitos entre os três personagens.
Ainda assim, não senti ainda um grande desenvolvimento com Jimmy e Lois, o que me decepcionou um pouco.
Eles dão de cara com um grande bandido no metrô de Metropolis e é uma ótima oportunidade para uma matéria, se o veículo não estivesse envolvido no plano de Luthor. Os desdobramentos dessa sequência de ação e o que Luthor faz com Superman são fantásticos, fechando a edição de forma muito bem criativa e bem feita.
Creio que ficou claro que há mais qualidades do que defeitos na história criada por Morrison e Morales, mas ela não tem cara de edição de estréia. Não tem cara de ser um início. Parece algo solto em algum lugar.
E não me venha com aquela de "ah, mas pra que ver Krypton explodindo, o foguete saindo do planeta, o foguete caindo na Terra e blá, blá, blá...". Pegue a primeira edição de "Superman - O Legado das Estrelas" e você verá uma mais do que perfeita edição de estréia sem precisar recorrer a essa sequencia cronologicamente linear. Ainda acho esse primeiro capítulo e o de John Byrne os melhores recomeços do homem de aço.
Consequentemente, se Action Comics #1 tem a missão de fazer a garotada comprar quadrinhos, não sei se a missão foi totalmente cumprida. Que faz antigos leitores voltarem a comprar, sem dúvida, mas a criança que vai aproveitar o relaunch para começar a comprar e consequentemente virar um leitor assíduo, tenho cá minhas dúvidas.
Pra mim, leitor que nunca deixou de comprar, me faz esperar mais duas ou três edições para saber do que esse "novo" Superman é feito. Action Comics #1 ainda não é o bastante pra mim.
Action Comics #1
DC Comics - Setembro de 2011
Roteiro de Grant Morrison
Desenhos de Rags Morales
Arte-final de Rick Bryant
DC Comics - Setembro de 2011
Roteiro de Grant Morrison
Desenhos de Rags Morales
Arte-final de Rick Bryant
Cores de Brad Anderson
Nota: 7,5
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