quinta-feira, 1 de setembro de 2011

HQ: CRÍTICA DE JUSTICE LEAGUE #1



A partir desta quinta-feira, o universo DC como você o conhece não existe mais. Ontem ocorreu o lançamento de Justice League #1, fazendo um relançamento desse universo de quadrinhos. Para quem não sabe, trata-se de uma estratégia da editora para conseguir novos leitores e evitar danos da pirataria ao lançar a HQ digital simultaneamente com a HQ impressa. Há também uma mudança de postura quanto à maneira de contar as histórias, voltada mais aos jovens. É preciso lembrar que o público atual de histórias em quadrinhos tem um perfil mais velho, são trabalhadores, totalmente o contrário de décadas atrás, onde as HQs tinham um perfil infanto-juvenil.

Porém, se a ideia dará certo, tenho cá minha dúvidas. Ao menos, se depender dessa primeira edição. Acredito que é um engano monumental começar o novo universo DC com a revista da equipe. Deveríamos ser apresentados primeiro às novas versões de cada herói para depois vermos como surge uma nova Liga da Justiça. Ao dar de cara com os novos heróis já se encontrando sem saber quais detalhes de suas vidas mudaram dá uma sensação ruim de que algo não se encaixa, que tudo é superficial.

Quando a capa é o que mais impressiona...
Escrita por Geoff Johns e com desenho de Jim Lee, a HQ é arrastada, sonolenta, cheia de clichês e demais erros que são cometidos normalmente por um roteirista iniciante e não alguém do calibre de Johns. Um dos erros mais gritantes é não ter uma estrutura de roteiro, ficando os acontecimentos a esmo. O ideal - e que normalmente acontece - é que haja uma microestrutura dentro de uma macroestrutura, onde a primeira trabalha a favor da segunda. Qual é a estrutura da macro - e em quantos capítulos será - só podemos especular. Essa edição tem cara de ser metade de um primeiro ato e se for isso mesmo - de modo que o ponto de virada da macroestrutura ficou para o final da segunda edição - teremos um arco de história em oito partes. Grant Morrison nos mostrou pouco mais de dez anos atrás que é possível fazer uma senhora historia em quatro partes logo com o primeiro arco de sua versão da Liga. Ele não tinha que apresentar personagens? Não tinha, mas tinha que apresentar a dinâmica da nova Liga da Justiça e fez não só isso, mas plantou as sementes - de forma óbvia - de coisas que ele ainda iria trabalhar em arcos futuros. Se a DC quer fazer a molecada comprar gibis, começar com oito partes com personagens cujas características já são conhecidas pode ser um tiro no pé. Se ao menos fossem personagens desconhecidos, nunca antes vistos, onde o fator surpresa ajuda muito, seria outra coisa.

Johns abdica da estrutura, preferindo - infelizmente - colocar os personagens em situações que mostrem como é o status do início desse novo universo DC, como um Hal Jordan ainda arrogante. Para piorar, ao passar meses tentando explicar esse relançamento, Dan Didio e seus "comparsas" falaram à exaustão disso, de modo que, ao ler a HQ, você não tem surpresa alguma. Me deu a sensação de que eu estava lendo material velho. Complementando, a relação quadrinhos/internet precisa também ser repensada na mídia, em como rola o tratamento com a imprensa especializada. Me chame de chato, mas as notícias estão acabando com o gostinho de novidade.

A maior parte das conversas: sobrem quem é o que.
Há um rascunho de enredo, onde um alienígena sinistro é perseguido em Gotham por Batman e Lanterna Verde. O que o alienígena fazia ali? O que ele queria? De onde veio? Essas são perguntas muito rasas, básicas para ficar só nelas. Em uma tentativa de colocar profundidade e despertar mais interesse, John faz o alienígena colocar um artefato desconhecido na Terra e entre suas falas, enaltecer Darkseid. Desculpe, Johns, ainda é muito pouco.

O único pedaço onde parece haver alguma trama verdadeira ocorre com Victor Stone. Sim, Victor Stone, porque ele ainda não é o Ciborgue. Obviamente, durante a trama, será mostrado como ele se tornará o icônico herói que em um outrora universo DC foi um dos Novos Titãs. Ainda assim, para quem conhece a história do personagem, não há muita novidade a não ser que o pai dele tem ligações com os seres superpoderosos que estão surgindo no mundo na época da trama. Mais uma vez, muito pouco.

A edição prossegue com Batman, Lanterna e Victor até as duas últimas páginas, onde mais um herói da Liga aparece, mas de maneira ainda estranha, sem tempero.

Se o resto das revistas seguirem essa linha, esperem por histórias recheadas de ação, mas bem simplórias em questão de enredo. Espero estar enganado, mas dá um gostinho amargo de Image Comics e Heróis Renascem.

Batman de armadura com Lanterna tradicional: discrepância.
Isso me remete a Jim Lee, que esteve envolvido em ambas as empreitadas. Quero deixar claro que não sou um dos detratores da arte dele. De uns tempos pra cá parece que uma leva de leitores quer fazer dele o novo Rob Liefeld, o que é muita crueldade, mesmo que você não goste da arte do coreano. Eu gosto de Lee - ele tem seus defeitos, mas tem qualidades na maior parte de suas características - e acho que ele melhorou muito a partir de "Silêncio", grandioso arco de história com o Batman no quesito arte, mas ridículo no quesito roteiro. Lee de vez em quando comete um ou outro deslize quando faz uma história, mas os acertos são tão numerosos que mascaram esses deslizes. Não é o caso de Justice League #1. Não há nada na arte dele que não seja algo que já tenhamos visto nesta edição. Inclusive, ele parece ter feito o lápis às pressas, sem dedicação. Muito da arte dele nesta revista é mais mérito de Scott Williams (arte-final) e Alex Sinclair (cores) do que do próprio Lee.

Quanto ao visual do heróis, ponto negativo mais uma vez. Os detalhes do traje do homem-morcego, que tenta emular uma armadura como é nos longas de Christopher Nolan, funciona de forma mediana no traço de Lee, isso porque ele é o idealizador do visual. E aparentemente, tais recursos funcionam - ou deveriam - no traço dele. Não há garantias de como tais adereços irão funcionar no estilo dos outros desenhistas da casa. Parece que houve um egoísmo da parte de Lee na criação dos designs.

No caso do Lanterna, não houve grandes mudanças. O Lanterna parece destoar de Batman e do outro personagem que aparece no final. A sensação que dá com o Lanterna é que ainda estamos no universo tradicional. A discrepância é muito grande.

Se querem atrair a molecadinha, o lance de uniformes mais "realistas" é um retrocesso. Muitos reclamam - dos leitores tradicionais, os mais velhos - que roupas colantes são ridículas. Fora do contexto é, concordo. Mas dentro do contexto - e o contexto é uma história em quadrinhos - elas são feitas da maneira que são para graficamente funcionarem em qualquer estilo de desenho. Por isso tem essas características. Ao optar pelo realismo das armaduras e apetrechos, a possibilidade que desenhistas não se adaptem a esses recursos visuais é grande, correndo um risco ainda maior de vermos desenhos ruins.

Resta apenas rezar para que a história melhore, assim como por um bom início desse novo universo.

Justice League #1 
DC Comics - Setembro de 2011
Roteiro de Geoff Johns
Desenhos de Jim Lee
Arte-final de Scott Williams
Cores de Alex Sinclair


Nota: 3,0

Um comentário:

  1. A coisa mais próxima deste reboot parece ser o "Heróis Renascem" mas a DC já fez uma coisa parecida em 1978 chamada DC Explosion http://en.wikipedia.org/wiki/DC_Implosion

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