terça-feira, 6 de setembro de 2011

ENTREVISTA: IVAN REIS



Essa é uma entrevista feita com Ivan Reis, o grande desenhista brasileiro de quadrinhos do momento (quer dizer, do momento já faz um bom tempo, afinal, o cara detona!) no ano passado para um blog de quadrinhos, mas que o editor-chefe, por razões que não lembro, acabou não querendo publicar.

Como eu discordo dele, publico-a agora, mesmo com o timing um pouco atrasado (porque eu esqueci da existência dela com tanta coisa pra fazer, me perdoe).

O legal é ver coisas que hoje estão diferentes, como o fato de ele ter dito que faria um Sinestro: Secret Origins, o que obviamente foi abortado pela DC devido ao recente relaunch.

Sem mais enrolações, com você, Ivan Reis.

1) Hoje conhecemos Ivan Reis, o ótimo desenhista de Lanterna Verde. Porém, poucos sabem de sua trajetória até onde está hoje. De maneira resumida, como você começou na área de quadrinhos e como chegou até a DC?
Comecei com Histórias Reais de Drácula da antiga Block Editora aos 14 anos fazendo uma história curta de terror e aos 16 anos entrei para o estúdio do Maurício de Souza onde tive conhecimento do Art & Comics e dos artistas que trabalhavam no mercado estrangeiro e 3 anos depois, com vários testes e treinos, peguei meu primeiro trabalho para o mercado americano na Dark Horse e não parei mais.

2) Você tem vontade de publicar algo por aqui? Seria esporádico ou algo mensal mesmo? Se sim, que características teria? Você escreveria ou faria parceria com algum roteirista brasileiro? Se sim, com quem? E no mercado americano, faria algo autoral? Se sim, faria parceria com que roteirista? E levaria algum roteirista brasileiro pra criar um projeto para o mercado americano?
Não me preocupo com o local onde eu publico e sim com a possibilidade de trabalhar e sobreviver fazendo quadrinhos. Não tenho projetos, nem planos futuros para trabalhos autorais. Sempre tive sorte com os roteiristas com quem trabalho e nunca me preocupei em trabalhar com algum roteirista em particular... deixo as oportunidades surgirem e tento aproveitar todas na medida do possível.

3) É muito comum artistas como você encontrarem espaço no mercado estadunidense, mas não em nosso país. Qual você acredita estar sendo a maior dificuldade para que uma indústria de histórias em quadrinhos consiga se firmar?
Embora esteja no Brasil, estou fora do mercado brasileiro por muitos anos, não saberia te dizer qual é a realidade do mercado hoje em dia. Publicar você consegue, viver disso é outra história.

4) Através de votação realizada por um respeitado veículo de informações sobre quadrinhos, o site Newsarama, você foi eleito o melhor artista de 2009 e tem recebido indicações em várias outras premiações. E o mérito de receber esse título é grande, pois concorreu com excelentes profissionais como Dale Eaglesham, Steve McNiven, Doug Mahnke, Ethan Van Sciver, Frank Quitely, George Perez e foi para a final com o excelente J.H. Williams III. Qual você acredita ter sido o diferencial em sua arte para que os leitores o elegessem o melhor artista de 2009 em detrimento de seus incríveis e competentes “rivais” nesta votação?
Não diria que foi por causa da arte exclusivamente, mas sim que na reta final tive ajuda de muitos brasileiros votando em mim.... hahahaha!

5) A Tropa dos Lanternas Verdes é composta pelas mais variadas formas de vida alienígenas, e você conseguiu mostrar a grande diversidade do grupo. Além disso, mostrou também esta diversidade na Tropa Sinestro, quando retratou terríveis e assustadores soldados do espectro amarelo, como Kryb, Slushh, Arkillo e outros. Em meio a tanta variedade, houve algum personagem que representou algum desafio para você?
Todos tem a sua dificuldade em particular, não existe um específico.

6) Por falar em desafio, você teve o privilegio de ser um dos primeiros artistas a desenhar Barry Allen, e devo confessar que você mostrou um Flash de maneira bastante diferente, de modo que ele aparenta estar em todos os lugares ao mesmo tempo e chega a ser angustiante vê-lo se movimentando sem parar. O que você levou em consideração para desenhar o Flash e como você buscou deixar claro a um leitor desavisado que quem estava usando aquele uniforme vermelho era Barry Allen e não Wally West?
Só tentei reproduzir uma idéia que era do Geoff (Johns, roteirista da série), ele me passou o conceito do que ele queria pro Flash. Foi bem interessante dar um ar novo para os movimentos de velocidade do Flash. Em relação a quem estava vestindo o uniforme Barry ou Wally isso tem mais a ver com como o roteirista escreve a personalidade de cada um.

7) A Noite Mais Densa é uma história com um pé no terror, pois apesar de estar dentro do gênero de super-heróis traz um elemento clássico dos contos de terror: mortos-vivos; os quais, aliás, você chega a representar de maneira bastante aterrorizante e, algumas vezes, até mesmo perturbadora. Na verdade, mesmo alguns membros da Tropa Sinestro chegam a ser representados de maneira bastante assustadora. Qual é, afinal, sua relação com este gênero?
Foi o gênero com o qual comecei minha carreira... ele chega a ser natural para mim. Sem contar que passei muitos anos fazendo estórias de terror e fantasia na antiga Chaos! Comics, fazendo Lady Death.

8) Há algum título da DC ou de qualquer outra editora que você almeja poder desenhar no futuro? Você já fez trabalhos para a Marvel quando ainda estava se firmando. Você pensa um dia ir de vez para lá ou já fez da DC sua casa? Se sim, o que gostaria de desenhar na Casa das Ideias?
Meu personagem de infância é Conan, espero um dia poder desenhá-lo. Durante minha carreira já fiz muitas coisas para a Marvel também. E claro que pretendo um dia fazer um projeto com eles, mas isso é para um futuro não muito imediato, pois tenho na DC um mundo de possibilidades antes delas se esgotarem. Na Marvel, gosto do Thor e do Hulk.

9) Agora, uma pergunta que não pode deixar de ser feita, porém não sei se é possível que você possa respondê-la. Terminada sua passagem em Lanterna Verde com Sinestro: Secret Origins (anunciado na San Diego Comic Con), qual será seu próximo trabalho na DC? Pode falar ou ao menos dar uma pista?
Não posso contar o que vai acontecer... em relação ao Sinestro, ainda estamos vendo as possibilidades porque o Geoff anda muito ocupado com os preparativos do filme.

10) Desde 1989 que os desenhistas brasileiros fazem trabalhos para o mercado estrangeiro de forma regular, em um mercado aberto por Marcelo Campos e Watson Portela. Com sua experiência nos bastidores do mercado americano, como você acha que as coisas poderiam acontecer para os roteiristas brasileiros?
Isso é realmente muito difícil de acontecer.... mas não é impossível, boa sorte para quem tentar, pois eu sou desenhista e sei como é difícil conquistar um espaço em outros mercados, levando em conta que o desenho é universal e a escrita depende de cultura e costumes específicos de cada região.

11) O que acha dos quadrinhos digitais? Acha que é o futuro? Co-existirá com quadrinhos impressos? Aparelhos como o iPad podem fazer mesmo a diferença?
Sim acredito que os quadrinhos digitais sejam o futuro para as mensais e o papel para as coletâneas, mas isso a longo, longo prazo, pois leva anos e anos para uma tecnologia se tornar acessível a todos. Acredito que pelo menos na minha vida o máximo que vai acontecer é elas co-existirem.

12) Por fim, uma pergunta a título de curiosidade. O que você está lendo atualmente e qual é seu grande palpite para 2011 dentro da DC e também no cenário nacional?
No momento não estou lendo nenhum quadrinhos...os prazos de Brightest Day estão me comendo a alma. Meu grande palpite para a DC é meu próximo projeto, hahahaha. Acredito que ainda teremos muitas coisas com a Turma da Mônica Jovem para esse ano.

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