segunda-feira, 11 de abril de 2011

Review: ROAD SALT ONE - PAIN OF SALVATION

Road Salt One

Road Salt One é o mais novo álbum da banda sueca de prog metal Pain of Salvation. É o sétimo trabalho de estúdio e sucessor de Scarsick. Ele faz parte de um álbum duplo que está sendo lançado em separado. A previsão de chegada de "Road Salt Two" é para setembro próximo.

Como qualquer trabalho da banda, trata-se de um álbum conceitual, com uma história de pano de fundo. De acordo com o vocalista, guitarrista e líder, Daniel Gildenlöw, "Road Salt One" é um apanhado de histórias paralelas que não são nem ficcionais e nem autobiográficas, de modo que é centrado no tema de "fazer escolhas", focando nas escolhas feitas por cada personagem. Gildenlöw tem comparado muito o álbum à ideia central do filme Magnolia, de Tom Cruise, em suas entrevistas.

Como os conceitos e brincadeiras criadas por Gildenlöw são muito abertas a interpretações, neste texto tratarei das minhas, estejam elas certas ou erradas.

O álbum começa com a gritante e agitada "No Way". Sua letra demonstra a história de um homem que está apaixonado por uma garota e recebe avisos do ex dela sobre as camadas - pra não dizer cicatrizes - emocionais em seu coração. É uma canção que fala sobre como as pessoas afetam umas às outras no âmbito profundamente sentimental, emocional, mais na questão de relacionamentos amorosos.

Normalmente, quando conhecemos e nos apaixonamos por alguém,a pessoa é novidade para nós. É um terreno a ser explorado e o que cada pessoa é nos relacionamentos, é reflexo de suas experiências passadas. "No Way" explora como essas experiências afetam quem está chegando, quem quer conquistar alguém que já trilhou caminhos de felicidade e depressão causados por relacionamentos amorosos.

Musicalmente, é muito mais cru, como um rock old school, um de volta ao básico estilão anos 70, remetendo a The Who, The Doors. Gildenlöw consegue fazer um progressivo usando da filosofia do menos é mais, coisa impensável quando se trata do gênero. São guitarras mais cruas, com uma sonoridade específica da época nos teclados, algumas pausas bruscas que lembram daqueles anos encontrada em 90% das bandas de então. Seu vocal brinca, como de costume, entre o grave e o agudo, sem dever nada a outros trabalhos e seguindo a tendo por inspiração Ian Gillan (Deep Purple) e Jim Morrison (The Doors), mas com sua maneira pessoal de interpretá-los. A bateria talvez seja o mais contemporâneo da cozinha toda, mas encaixa-se com uma perfeição absurda. É um ótimo início de álbum e um belo cartão de visitas para o resto do trabalho.

Na sequência, "She Likes To Hide" fala de como nos fechamos depois de uma recente ferida emocional. O grande quê aqui não é nem tanto a letra - coisa difícil de acontecer em um trabalho de Gildenlöw - mas o conjunto da obra, o resultado final, de modo que as melodias, tanto dos instrumentos quanto do vocal dele é que são o grande destaque. Possui uma levada de blues, mas com mais peso para as guitarras. É uma canção mais crua ainda do que "No Way" do ponto de vista progressivo, mas que não tem o erro de ser simples demais.

"Sisters" é a terceira e tem uma levada quase de marcha em boa parte da bateria e dá mais destaque para piano e teclado, deixando as cordas das guitarras e baixo mais para complementos e com um timbre mais característico de instrumentos de décadas atrás, mostrando um esmero especial da banda quanto a detalhes. A letra é um aberto absurdo para interpretações, de modo que ainda não consegui chegar a um consenso em minhas audições.

Daniel Gildenlöw, o gênio musical por trás do Pain of Salvation
Com um começo vocal - ok, pode me chamar de herege - que me lembra uma certa canção de Toni Braxton, "Of Dust" me causou estranheza da primeira vez. Porém, conforme os segundos passam, tal sensação foi - graças ao bom Deus - deixada de lado. Com um backing vocal bem executado e colocado pelos outros membros do grupo e com Daniel alternando entre o canto quase lírico e com inspirações de corais religiosos e o discurso mais íntimo, a melodia dos instrumentos serve apenas para criar o clima desejado. A letra encarna perfeitamente o clima ao falar de quando precisamos realizar mudanças drásticas, internas ou externas, e temos problemas em ir ou não adiante, eu deixar tudo como está ou mudar de vez. É algo muito ímtimo de uma pessoa, algo quase religioso, daí a escolha por esse caminho musical.

"Tell Me You Don't Know" é uma das mais interessantes tanto na melodia quanto nas letras. O classicismo é um dos grandes problemas do ser humano. A mania de se achar melhor do que o resto, mais especial, de ter sempre a razão. E isso é questionado na figura de uma pessoa que tem seus ideais, dogmas e preceitos quebrados e precisa se reencontrar no mundo. A ambientação folk da melodia dá uma sensação quase interiorana, como se a figura fosse um caipira que vai para a cidade grande pela primeira vez. A essa altura do campeonato, nota-se que eles estão tocando músicas mais curtas, mais acessíveis, diferentes das grandes obras de mais de dez minutos que caracterizam o progressivo.

"Sleeping Under the Stars" é algo bizarro e ao mesmo tempo com escolhas tão acertadas que cria algo curioso. Parece uma melodia tiradas dos maiores circos de aberrações que você puder imaginar, criando um clima de filme de terror com cenários circenses estranhos. A combinação dos intrumentos deixa a imaginação voar fácil por cenários assim. O vocal altamente interpretativo de Daniel faz dele quase um mestre dos picadeiros. Já a letra caminha por uma personagem que tem uma vida boêmia e desregrada, onde tudo é festa e curtição, tornando-se quase uma personagem de showbizz, questionando se uma vida assim realmente vale à pena, se há profundidade e significado em seguir dessa maneira.

A sisuda "Darkness of Mine" quebra todo o clima agitado das duas canções anteriores, caindo para o sombrio e tenebroso. Em alguns momentos, lembra até algumas coisinhas do Black Sabbath. Seu timbre é quase cinematográfico e a agitação repentina no refrão é quase como um vilão de terror fazendo sua aparição triunfal, assim como sua parada repentina é quase uma fuga deste. Daniel canta como alguém cuja vida está perdida, destroçada, exatamente como as de viciados em drogas quando estão perdendo a luta para as substâncias ilíticas, que é o tema da letra. O backing vocal é quase a droga em si, viva, como se estivesse sussurrando no ouvido de seu usuário, pedindo por mais. É com certeza um dos melhores momentos do álbum.

"Linoleum" é o carro-chefe desse trabalho, uma das primeiras canções a ser divulgadas em EPs. É a mais agitada e direta, talvez a mais comercial mesmo. Creio que todas as pessoas já passaram por momentos de fragilidade onde não podemos desabar diante das dificuldades impostas pela vida na tentativa de seguir adiante. É sobre isso que trata "Linoleum" de uma forma brilhante, mesmo tendo um apelo mais vendável. É quase uma mistura de The Doors com Soundgarden de uma maneira única. A levada a dois minutos e trinta e cinco na música é quase lisergicamente hipnótica. É incrível como Daniel consegue criar algo comercial e ao mesmo tempo com uma sincronia criativa e inesperadamente incrível nos instrumentos. A brincadeira entre vocal e backing vocals não dá vontade de parar de cantarolar junto.

Talvez "Curiosity" seja o ponto mais baixo do novo álbum, mas ainda assim, melhor do que 90% sendo feito hoje no mercado. Ela segue a linha agitada de "Linoleum", porém, de uma maneira diferente e quase caótica. Só fui gostar mesmo dela com várias audições e foi a mais difícil de lembrar quando refletia sobre "Road Salt One". A letra brinca sobre como um casal interpreta o que é amor e como essas interpretações afetam o relacionamento deles.

A coisa aumenta novamente de nível com a chegada de "Where It Hurts", que segue a linha sinistra de "Darkness of Mine". Essa música tem a temática de explorar nossos pontos fracos, onde realmente nós podemos ser machucados, não importa de que forma seja. É cruel e doloroso, é raivoso e deprimente. É mais um momento brilhante de "Road Salt One". Essa canção, assim como em todo o resto do álbum, mostra o que é difícil hoje em dia: uma banda que prima sobre que forma passará uma mensagem e quais são os melhores meios para isso. Uma instrumento não quer aparecer mais do que o outro ou quando o faz, tem uma razão para tanto. Recentemente ganhou um clipe que foi banido do Youtube e do Vimeo devido a aparecer uma garota parcialmente nua, ter muito sangue e até um coração batendo na mão de Daniel. Pessoalmente, não considero o clipe tão pesado assim para tanto, mas como há sempre o politicamente correto e a falsa moralidade reinando em muitos lugares, não é de se surpreender.

Hermansson, Margarit, Hallgren e Gildenlöw
Logo depois vem a música que dá nome ao trabalho, "Road Salt". É um dos momentos mais puros e emocionantes de todo o CD. É uma letra perfeita, direta e que cativa qualquer pessoa ao lidar com a temática de que às vezes temos que levar o mundo inteiro nas costas, como se fôssemos milhares de Aquiles. "Maybe it's not enough. Maybe this time it's just too much. Maybe I'm not that tough" é um trecho que dá pra resumir a ideia da canção. A emoção que Daniel coloca na voz é de chorar e é o grande destaque dela, tendo as melodias como pano de fundo quase como uma canção de ninar, como se a "estrada dura demais" falada nas letras fizesse o ouvinto implorar para voltar à inocente época da infância.

Por fim, a décima segunda e última canção de "Road Salt One" é "Innocence". E vou te dizer, que senhora canção. É a melhor, disparada, de todo o trabalho. Só consigo imaginar que o único motivo de Daniel tê-la colocado por último é para pedir por mais, fazendo ficar aquela vontade de "Road Salt Two" ser lançado o mais rápido possível. É uma canção que te faz refletir sobre os momentos em que você aposta todas as suas fichas em uma certa direção em sua vida, dá com a cara na parede e tem que recomeçar. É sobre redenção - um tema pelo qual tenho uma queda forte - e como lidamos com o fato de estarmos errados, de ter nossas convicções testadas e quebradas. É sobre a reinvenção do eu em todas as camadas do ser humano até o âmago do ser. Eu não consigo colocar em palavras como a melodia dos instrumentos soa em conjunto com os vocais e como formam um conjunto de indiscutível qualidade.

O Pain of Salvation tem, por característica, nunca fazer um trabalho igual ao outro. Seus álbuns são sempre diferentes um do outro, seguindo por caminhos distintos e imprevisíveis. A capacidade de reinvenção deles é algo sobrehumano. Porém, a linha que seguem em "Road Salt One" começou em outro trabalho, "Be". Hoje há duas fases distintas, que poderiam ser chamadas de "antes e depois de Be". Muitos ainda preferem a sonoridade antiga - como eu - mas não pode-se negar que a nova sonoridade do grupo, descoberta depois de "Be" é algo indescritivelmente criativo. Depois de "Be", eles se tornaram um grupo mais cru, mostrando que perfeição musical não é apenas tocar milhões de notas por segundo e sim atingir em cheio o coração do ouvinte. Antes, eles tinham uma carga pesada e um som absurdamente mais trabalhado na perícia musical e ainda assim, conseguiam um equilíbrio monstro entre técnica e feeling, coisa que muitas bandas do progressivo não conseguem. Agora, o PoS é muito mais feeling do que velocidade da dedilhada, complexidade sonora ou afins. Está mais para uma viagem a lá Pink Floyd do que para a trampagem do Rush; mais para as bizarrices bacanas de Björk do que para um épico estilo Yes.

Depois de "Be", ninguém sabe o que o PoS - e em especial, o Daniel - iria fazer. Seu sucessor, "Scarsick", sacramentou as mudanças que "Be" trouxera, goste ou não - e boa parte dos fãs não engoliu - e "Road Salt One" é a evolução natural dessa nova linha de pensamento, é a consagração de algo que vem sendo trabalhado cuidadosamente por Daniel e cia.

"Road Salt One" dá uma ótima ideia do que esperar de "Road Salt Two", mas também faz crescer a vontade de ouvir o que vem além, de ouvir aquilo que nem existe, que é o que virá depois de "Road Salt Two". Se seguir a já citada evolução natural, imagino que seja algo complexo como era em sua sonoridade "pré-Be", mas com uma cara da fase "pós-Be".

Esse é um dos melhores trabalhos musiciais nos últimos anos e uma senhora lição de rock.

Road Salt One
Pain of Salvation
Inside Out Music/Hellion


1. No Way (5:26)
2. She Likes to Hide (2:57)
3. Sisters (6:15)
4. Of Dust (2:32)
5. Tell Me You Don't Know (2:42)
6. Sleeping Under the Stars (3:37)
7. Darkness of Mine (4:15)
8. Linoleum (4:55)
9. Curiosity (3:33)
10. Where It Hurts (4:51)
11. Road Salt (3:02)
12. Innocence (7:13)

Daniel Gildenlöw - vocal, guitarra e baixo
Johan Hallgren - backing vocals e guitarra
Leo Margarit - backing vocals, bateria e percussão
Fredrik Hermansson - backing vocals, piano e teclados

Review: A CIÊNCIA DOS SUPER-HERÓIS

Publicado originalmente no site A ARCA no dia 07/10/2005.

Em primeiro lugar: não tentem isto em casa, crianças!

Por Emílio "Elfo" Baraçal

Acabei de ler A Ciência dos Super-Heróis, de Lois Gresh e Robert Weinberg e foi uma experiência fantástica. Pra você, que não está entendendo nada por qualquer motivo que seja, vou dar uma explicação rápida: o livro, recém lançado no Brasil pela Editora Ediouro, foi escrito por dois cientistas, amantes das histórias em quadrinhos e séries de ficção. Através da ciência, eles explicam como funcionam (ou não funcionam) os poderes dos heróis que todos nós adoramos.

O livro possui algumas limitações, mas já falo disso, nada que o estrague muito. Primeiro, há uma introdução, importante para quem não lê quadrinhos e até dispensável (ah, vai mas vale pela curiosidade, não?) para quem é leitor assíduo todo mês de X-Men, Flash e todos os outros.

Depois da introdução, com quem eles começam? Se o Superman é o primeiro e o maior de todos os heróis, nada como começar com ele, certo? Ok, em primeiro lugar, a premissa básica do personagem é: ele é um alienígena. Dessa forma, os autores começam, antes de falar de seus poderes, sobre como o personagem surgiu na nossa sociedade e dão um breve resumo de sua origem, aquela que todo mundo conhece, de Krypton explodindo e tal. Essa introdução é feita com cada personagem abordado, mostrando que eles se preocuparam sim com aqueles que não são leitores de quadrinhos.

Bom, depois da origem, vamos aos fatos? Bom, o Superman é um alienígena, então as perguntas iniciais são: existe vida fora da Terra? Existem outras civilizações avançadas através do cosmo? As explicações passam pelas teorias vistas na ufologia (Sem se aprofundar muito, já que o assunto não é esse), chegando às teorias do renomado astrônomo Carl Sagan (um dos maiores entusiastas do caso) e indo também pelo lado dos pessimistas que não acreditam muito em vida fora da Terra por suas próprias razões e teorias. Fazendo um apanhado disso, tentam explicar primeiro a existência do Superman.

Depois chegam nos poderes. Ah, ele é forte, resistente, tem visão de calor e tudo isso devido à gravidade diferente de Krypton e à exposição a um sol diferente de seu planeta natal? Isso é possível. Aí é que eles entram nos estudos de gravidades planetárias, radiação solar e como isso afeta os seres vivos. E levando em consideração, claro, de como alienígenas podem ser diferentes de nós. Uma a uma, as características do Superman são esmiuçadas, provando se ele pode ou não existir. E claro, levando em consideração que, teoricamente, ninguém sabe como é um alienígena e como ele reagiria em nosso ambiente.

E não espere que seu herói preferido esteja aqui. Segundo os próprios autores, eles tiveram um critério de seleção para os personagens: os mais populares e diferentes entre si. Assim, quiseram atingir o maior número possível de leitores, sendo de quadrinhos ou não.

Em seguida, vemos os próximos heróis, Quarteto Fantástico e Hulk. Por quê foram colocados juntos? Por quê ambos lidam com radiação. Raios cósmicos e raios gama. Como são os raios cósmicos de verdade? E os raios gama, como funcionam em seres vivos? Tudo é esmiuçado de forma clara na maior parte do tempo. E digo maior parte do tempo porque chega momentos no livro inteiro em que fórmulas fisico-químicas entram em pauta, não há outro jeito, mas você vê que os autores se esforaçaram em deixar a linguagem o mais clara possível.

O mais legal nessa parte, é constatar, por exemplo, sem revelar muito, que o Hulk pode não existir com a origem que tem nos quadrinhos, mas os autores explicam que o Hulk poderia existir com uma outra origem, perfeitamente possível. Sim, o Hulk como o conhecemos, verde, grande, forte e raivoso pode existir. Mas não se preocupe, fica evidente a frase "não tentem isso em casa, crianças", mesmo porque os fatores que fariam com que o golias verde existisse são bem complexos. Mas que dá medo, ah, isso dá...

Poderes? Já vimos bastante e depois voltaremos a eles, ok? Sim, você advinhou, tá na hora de falar do Batman. E você ainda tem alguma dúvida? Sim, ele pode existir, pode ser eu, você ou o seu vizinho. Porém, no que concerne o equipamento, ou seja, as bugigangas dele... bem, se eu te contar que arranjar os equipamentos dele é mais fácil e barato do que você imagina? E não estou falando de batmóvel, batcomputadores e essas engenhocas realmente caras, mas sim apenas do que ele carrega em seu cinto de utilidades.

Voltando aos poderes, agora é a vez de dois semelhantes, Aquaman e Namor, o Príncipe Submarino. Tudo é visto nos mínimos detalhes: o funcionamento de guelras, a telepatica aquática e como o ser humano poderia desenvolver isso, passando até pelo maior obstáculo aquático do homem: a pressão das profundezas. Levando em consideração tudo isso, o capítulo até surpreende e é divertidíssimo.

Agora é a vez daquele que o meu amigo El Cid tanto esperava: o Homem-Aranha. E você sabia que ele parece menos com uma aranha do que se imagina? Levando em consideração a biologia das aranhas e a nossa, fazendo o devido e possível (com os pés no chão) mix de ambos, apenas metade de seus poderes seria o equivalente ao de uma aranha. E não vou dizer quais para não estragar a surpresa. Porém, fiquei muito tentado a reproduzir aqui um pequeno trecho que não vai estragar nada e também vai solucionar uma dúvida cruel que leitores de mente suja têm sobre o personagem: a teia.

Depois de uma longa explicação de como aranha produzem a teia e do que ela é feita, os autores se esmiuçam em adaptá-la para nossa biologia. Se é possível ou não, não vou dizer, mas segue o tal trecho, divertidíssimo e que ilumina muita coisa: "É claro que, se Peter adquirisse a habilidade de fazer fios de seda , a preocupação imediata seria onde faria essa seda e, mais importante ainda, de onde sairia de seu corpo. Ambas as perguntas é melhor que não sejam feitas, e talvez evitando-as a gente responde à pergunta por que Stan Lee preferiu usar os lançadores de teia" - Hahaha, é algo que todo mundo sabe e se esperavam por alguma confirmação científica, êi-la, hehe...

E sim, El Cid, eles falam dos malditos clones...

Pra mim, a melhor parte do livro vem com a explicação sobre os Lanternas Verdes, que é a seguinte. Entrando em uma complicada teoria sobre as estrelas, os buracos negros e brancos (estes últimos, só existem na teoria) e os espectros de luz, os autores tentam explicar mais a tal energia verde que abastece o anel e não se preocupam muito com as capacidades dele de criar qualquer coisa. Afinal, sem a tal energia lendária, o anel não faz nada. Porém, com toda a explicação da energia, por tabela, se você prestar bem atenção e usar a lógica, vai ver que as capacidades do anel ficam subentendidas. Eu simplesmente fiquei embasbacado com as explicações se pode ou não haver um lanterna verde e fazendo uso de um exercício de imaginação com as teorias apresentadas, o personagem seria o herói mais poderoso de todos os tempos de longe, deixando até o Superman como uma simples criancinha. Legal, não?

Em seguida vez os heróis mais desafiadores das leia da física, química e biologia: Elektron e Homem-Formiga. Só pra resumir, usam leis da física como a Lei do Quadrado e do Cubo, aceita e entendida por qualquer cientista que se preze, tentando explicar os pormenores de se reduzir algo (principalmente biológico) ou aumentar seu tamanho rapidamente. Seria possível diminuir seres vivos a um tamanho quase microscópico? Sim, até é possível, mas há implicações e efeitos colaterais suficientes para saber que não seria muito legal, apesar das muitas vantagens (como uma superforça proporcional, tornando qualquer um o rei do formigueiro) apresentadas. E bem, deixar alguém gigante? Eu resumo dizendo que não ia ser muito interessante...

Talvez o personagem que mais desafie a física ao lado dos dois aí acima, seja o Flash. E eis que vem toda aquela Teoria da Relatividade, velocidade da luz, atrito com o ar e tudo mais. Tudo isso, para explicar como alguém poderia ter supervelocidade. E digo poderia, pois ninguém precisa ser muito inteligente ou ler este livro pra saber que não dá. Mas que as explicações são interessantíssimas, - ah, são sim senhor. Inclusive, o capítulo é bem engraçado.

No capítulo seguinte, talvez seja o que todos esperam, os mutantes. Sim, falam sobre os X-Men. Tomando por base duas teorias opostas, a do evolucionismo e do criacionismo e analisando como a vida na Terra aconteceu e se desenvolveu, mostra como os X-Men poderiam existir. E se parar para pensar, sendo bem mente aberta, até assusta como eles mostram que, em um futuro não muito distante, o próximo passo evolutivo do homem é provavelmente (mas não exatamente) o que são os mutantes da Marvel. Assusta, não?

Sem entrar muito nos detalhes de como poderíamos soltar raios ou ter fator de cura, eles se preocupam mais como o como começaríamos a desenvolver essas habilidades e não em quais desenvolveríamos. Algumas, claro, ficam absurdamente óbvias, como por exemplo, poderíamos, num futuro, ter sentidos aguçados ou enxergar espectros de luz e não, de modo algum, ter uma pele de "aço orgânico".

Tentando entrar já no "mundo mais real", aparecem os heróis sem poderes, mas com engenhocas tecnológicas, como Flash Gordon e Buck Rogers, esses sim, perfeitamente possíveis daqui há uns cem, duzentos anos. E tudo depende de como o homem vai singrar pelo universo. O homem vai conseguir chegar a Marte? Se chegar, vai conseguir viver lá? E em Júpiter, é possível ter algum avanço? Se sim em ambos os casos, que descobertas faríamos? E devido a essas descobertas, como afetaria a tecnologia na Terra, devido às necessidades de criarmos aparatos tecnológicos para experiências? Um desses aparatos poderia ser mais útil com outro uso (mais heroico)? Inclusive, este é o capítulo que eu acho que o Fanboy ia delirar por ver suas teorias quase 100% confirmadas (mas não negadas): a de viagem no tempo. E eis que ficam respondidas, por alto, a existência de heróis espaciais.

E se você acha que já teve muita coisa inesperada no livro, eis que surge algo que vai completamente contra a maré do livro: os personagens da Disney como Tio Patinhas e Pato Donald. Não, patos humanoides não são, teoricamente possíveis e fica óbvio que isso não deve ser discutido. O que eles explicam são em como as motivações, modo de pensar, agir, e outras características da "família pato" são bem mais realistas do que a dos heróis e mostram como Carl Barks, o verdadeiro formador desse universo, mostrava as invenções utilizadas por Tio Patinhas em suas aventuras e os modos como saía de enrascadas, totalmente possíveis. Carl Barks, além de saber como ninguém contar uma história e desenhar pra caramba, ainda era cientificamente plausível, muito mais do que os super-heróis. Ok, o meu grande amigo Paulo Maffia deve estar pulando de alegria a uma hora dessas...

E sim, depois disso, eles explicam por que, além do motivo óbvio de espaço, deixaram alguns heróis de fora. E ainda tentam estimular os leitores a mandarem e-mails para a editora, pedindo por uma continuação (lógico, eles tem que sustentar sua família também, né?), que por mim, seria muito bem vinda. Aí sim, com continuações e mais continuações, heróis como Homem-de-Ferro, Homem Borracha, Canário Negro, Visão e outros poderiam ser explicados. E mostram porque, obviamente, deixaram de fora heróis como Thor, Dr. Estranho e Mulher-Maravilha, pois são heróis com origem mística. E magia e o sobrenatural não são aceitos pela ciência, como todo mundo sabe.

Por último, temos um debate entre os autores com quadrinhistas como Len Wein (criador do Wolverine e da segunda formação dos X-Men), Buddy Scalera (que já escreveu Deadpool, X-Men e trabalha como redator da Wizard americana) e outros. E nesse debate, o lado criativo misturado com a ciência é discutido, explicando o porquê de, às vezes, os quadrinhistas deixam de lado explicações mais convincentes em favor da história bem contada e como a ciência poderá ser usada e vista daqui pra frente no mundo dos quadrinhos.

Resmudindo, sem deixar se aprofundar muito (devido a alguns aspectos de certos poderes e origens serem obviamente impossíveis e outros, perfeitamente plausíveis) e na linguagem do limiar do compreensível, o livro é um prato cheio, tanto para quem lê gibi quanto para quem não lê. E muito útil para quadrinhistas profissionais, pois a luz que os autores lançam sobre alguns aspectos da origem e dos poderes podem ajudar a tornar seus personagens mais criveis na hora de fazer sua própria criação. Teve horas em que, confesso que fiquei tendo dificuldades de entender e isso se deve a algumas fórmulas apresentadas, mas há momentos em que não há como fugir disso. Ok, ok, ciências nunca foi meu forte mesmo...

Mesmo assim, mesmo com as fórmulas, os autores, logo em seguida, explicam passo a passo o que quer dizer cada uma e é aí que todo leitor deve ter cuidado. A batelada de informações é tão grande que a leitura deve ser lenta e reflexiva, caso contrário você se perderá no meio das suas próprias conjecturas e lógica, dificultando tudo. Sendo assim, o conselho é: leia devagarinho e com calma. E não tente ler um capítulo na frente do outro, só pra ver primeiro sobre seu herói preferido, pois a explicação de alguns deles está interligada, ou seja, se você não leu na ordem, o entendimento de alguns pode ser ainda um pouco mais difícil. E senti falta de ilustrações, pois o livro é inteiramente formado por textos. Creio que, algumas ilustrações mostrando cenas dos quadrinhos em que heróis usam seus poderes, poderiam facilitar o trabalho de imaginação e compreensão daqueles que não lêem gibis, sendo usadas como exemplos.

Se for para dar as famosas notas, dou 9,5 com louvor.

A Ciência dos Super-heróis, de Lois Gresh e Robert Weinberg. Editora Ediouro. 232 Páginas. R$ 39,90.


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Comentários Atuais:

Na mudaria absolutamente nada no texto. Está direto, objetivo, enxuto e divertido. Me orgulho dessa crítica, que tem um tom quase quadrinhístico.

Quanto ao texto em si, continua me agradando e até deu vontade de reler o livro. Peraí que já volto... ;)

Crítica: MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA

Publicado originalmente no site A ARCA no dia 24/01/2006

O trabalho definitivo de Zhang Ziyi!

Por Emílio "Elfo" Baraçal

Meditando... concentração... controle sua respiração, Elfo... você precisa escrever uma crítica sobre esse filme... ok, é um filme complicado para você, mas... isso... meditando...

(olha para o cartaz do filme antes de entrar na sala de projeção... respira fundo e dá o primeiro passo)

Olha, já vou avisando: não li o livro. Sim, Memórias de uma Gueixa é baseado em um romance de sucesso lançado em 1997, escrito pelo americano Arthur Golden. E pretendo me redimir do pecado de não ter lido esse livro o mais breve possível. E por dois motivos: pra mim, que não li o livro, adorei o longa. E lógico, quem costuma acessar A ARCA regularmente, sabe que sou um entusiasta da cultura oriental.

Em primeiro lugar, devo avisar uma coisa. Este filme pode provocar alguma polêmica, dependendo de quem o assiste. Creio eu que há três tipos de públicos para essa produção. 1 - Quem não manja nada de cultura japonesa. 2 - Quem ama cultura japonesa (como eu) e 3 - Quem é japonês de verdade.

Se você não entende patavinas de cultura japonesa, mas gosta de películas que mostrem culturas diferentes, curte um romance, um drama cheio de reviravoltas, não vai ter do que reclamar. Se você é um entusiasta da cultura japonesa, pode ser que ache um ou outro defeito, mas creio ser difícil. Agora, se você é japonês (ou morou muuuuuuito tempo no Japão), pode ter um pouco da mesma reação de boa parte do povo da terra do sol nascente.

O que acontece é o seguinte: o filme é sobre gueixas, certo? Lá no Japão, reclamaram do fato de terem escalado, para dois dos papéis principais, duas atrizes chinesas, Zhang Ziyi (de O Clã das Adagas Voadoras) e Michelle Yeoh (de O Tigre e o Dragão). Sabe como é, japoneses e chineses não se bicam (reza a lenda... ou não, já que pode ser um fato), mas não é só isso não. Os japoneses podem até ter um tantinho de razão. É como se fossem filmar um filme sobre um jogador de futebol brasileiro e escalassem (olha o trocadilho aí!) um ator argentino para o papel. Ou se fosse sobre samba. Qualquer um pode dançar, mas só o brasileiro terá o gingado e a levada precisa para se tornar realmente natural.

É aí que fica o lance da coisa: será que a interpretação delas, o modo como encarnaram o papel de gueixas foi convincente? Se você nada sabe sobre cultura japonesa e menos ainda sobre este misterioso mundo das mulheres do entretenimento, se tiver algum erro, vai passar batido. Apenas divirta-se. Agora, se você é um entusiasta... pode ser que ache alguma coisa, embora eu ache difícil. Eu mesmo, não achei nada de errado nos maneirismos delas que, na minha sincera opinião, foram perfeitos. Agora se você é japonês... bom, tire suas conclusões, afinal, você tem autoridade para isso.

Em questão de interpretação, é díficil dizer quem foi melhor entre as duas. É muito fácil se identificar com a personagem de Ziyi através de cada emoção com a qual a atriz nos presenteia. Yeoh é igualmente competente nesse quesito (embora eu tenha ficado pendendo pro lado de Ziyi). Porém, Yeoh tem um probleminha: suas características étnicas são muito mais evidentes do que as de Ziyi. O rosto de Yeoh simplesmente não se encaixa no meio das atrizes japonesas. Porém, se você é da turma do "japonês, chinês e coreano é tudo igual!", não esquente a cabeça e curta o filme. Porém, se você é um entusiasta como eu, pode estranhar. Se tu for japonês então...

Ainda assim, há uma atriz que simplesmente engole Ziyi e Yeoh quando aparece em cena. E esta atriz é a maravilha do oriente chamada Gong Li (de Lanternas Vermelhas e Adeus Minha Concubina). Toda vez que ela dá as caras, não importa que emoção passe, raiva, cinismo, alegria, ódio, sedução, não importa: ela derruba qualquer um nessa película. Ou talvez não.

Entre os homens, quem mais se espera que se destaque é Ken Watanabe (de O Último Samurai e Batman Begins), não? Errado. Watanabe está muito bem. Mesmo. Entretanto, para azar dele, há ali no meio um ator chamado Koji Yakusho (é dele o papel principal do filme japonês que inspirou o longa americano Vamos Dançar?, com Richard Gere). A maior prova disso é a cara que ele faz quando Ziyi está dançando para todos em um palco. Sim, a mesma cena que vemos no trailer, onde flocos brancos caem sobre Ziyi no meio do escuro, onde a única fonte de luz incide sobre ela. Preste atenção no rosto de Yakusho e verá sobre o que estou falando.

A direção deste longa ficou por conta do aclamado Rob Marshall, do musical Chicago. E que trabalho o cara fez: dá pra notar que ele tomou cuidado em relação a quase tudo. Cenários (deslumbrantes - tanto é que eu queria morar no cenário do jardim do Barão, um dos personagens), enquadramento, música (que por sinal, é do mestre John Williams, que consegue mais uma vez fazer o clima do filme entrar na alma de qualquer um com seu trabalho), figurino, edição, quase tudo feito de forma primorosa e cuidadosa. Você deve estar se perguntando o porque de eu ter citado "quase tudo" duas vezes, não? O defeito que mais me incomodou na produção foi o fato de eles terem preferido a interpretação em inglês ao invés do idioma usado ser o japonês. Se os atores são japoneses em sua maioria, por que isso? As interpretações de todos com certeza ficariam ainda muito melhores se fosse na lingua nativa deles (ou algo próximo, no caso das atrizes chinesas). Uma pena que tenham optado dessa forma.

É uma adaptação fiel do livro? Mais uma vez, digo que não o li, então não posso dizer se o longa é merecedor de comparação ao trabalho original, mas o roteiro escrito por Robin Swicord é bem amarrado, cheio de reviravoltas e possui humor sutil nos momentos certos e é cheio de drama e romance. Mas o mais legal de tudo é que me fez torcer pela personagem de Ziyi e me fez odiar a personagem de Gong Li.

O mundo das gueixas é muito bem retratado, mostrando seus costumes, seu dia-a-dia, seus códigos (como por exemplo, as gueixas não têm o direito de poder amar alguém), o modo como influenciavam os bastidores da política e da alta-sociedade japonesa, entre outros detalhes. Fiquei bastante impressionado como todas essas características foram apresentadas de forma balanceada, sem um sobressair ao outro.

Bom, agora, que tal irmos para a história de "Memórias de uma Gueixa"? Pouco antes de ocorrer a 2ª Guerra Mundial (a história chega a atravessasr este fato histórico), uma menina, Chiyo (a adorável Suzuka Ohgo, impossível não gostar dela) é vendida por sua família a uma casa de gueixas como escrava. Sua irmã mais velha sofre o mesmo destino, mas é vendida para uma outra casa de gueixas que não se sabe onde fica. Dessa forma, não aceitando este fato, Chiyo quer, de qualquer forma, reencontrar a irmã.

Entretanto, uma coisa em Chiyo chama muito a atenção: ela tem belos e inesperados olhos azuis. Sendo assim, a senhoria que administra a casa de gueixas pensa em fazer a menina se tornar mais uma fonte de lucro. Porém, a maior gueixa dessa casa (e uma das mais disputadas da região), a egoísta, cruel e belíssima Hatsumomo (Gong Li) fica com inveja de Chiyo justamente pelos olhos azuis da menina, enxergando nela uma ameaça ao seu status. Claro que a maldita faz de tudo para tornar a vida de Chiyo um inferno (embora comparada às outras mulheres da casa, a vida de Chiyo não era muito diferente).

Triste, acontece algo na vida de Chiyo que dá a ela a motivação perfeita para se tornar uma gueixa. Sendo assim, ela corre atrás do tempo perdido. Hatsumomo, ao mesmo tempo que tenta fazer Chiyo desistir desse tipo de vida, precisa acabar com sua maior rival na região, a bela e requisitada Mameha (Michelle Yeoh), de uma casa de gueixas rival. Porém, Mameha vê um futuro promissor em Chiyo e faz negócios com a senhoria dela. Assim, Mameha se torna a nova mestra da menina na arte do entretenimento e da sedução conforme os anos passam (e claro, Ziyi interpreta a versão mais velha de Chiyo).

No meio disso, o caminho de todas elas cruzam com um homem que é conhecido apenas como "O Presidente" (Ken Watanabe), chamado assim por ser o cabeça de uma das maiores empresas da região. Seu melhor amigo é Nobu (Koji Yakusho), um companheiro de trabalho que odeia gueixas. E é com esses dois que o destino de Chiyo (que é rebatizada como Sayuri no meio do caminho) será traçado, resultando numa história bela e poética.

Resumindo, um filmaço, pelo menos para mim. Se você só está acostumado a assistir coisas com toneladas de efeitos especiais e com "nominhos da moda" no meio do elenco e mais outras coisas do gênero que em boa parte são vazias, vá assistir a "Memórias de uma Gueixa". É bom variar de vez em quando. Pode ser que você não goste, afinal, não é um filme de ação. Agora, se você gosta da cultura japonesa, não perca tempo. E se você é um japonês... ah, sei lá!

:: ALGUMAS CURIOSIDADES 

- Steven Spielberg, Brett Ratner, Spike Jonze e Kimberly Peirce foram alguns diretores que foram sondados para dirigir este filme. Spielberg acabou ficando apenas com a produção.

- Maggie Cheung, uma das atrizes de Herói, foi considerada para o papel de Mameha. Já pensou, rapaz? Nooooooossa, eu ia ficar louco... não que não tivesse ficado com a Michelle Yeoh, mas pô... é a Cheung!

- Levou muito tempo e muitas negociações para que Rob Marshall dirigisse este filme. Desde que ele dirigiu o grande sucesso "Chicago", ele havia negociado com a Miramax que iria dirigir um filme produzido por esta empresa. Porém, "Memórias de uma Gueixa" é da Dreamworks. Como sempre teve uma histórinha por trás dos bastidores de que uma produtora fica "roubando" talentos da outra é que desandava tudo.

- John Williams desistiu de compor a trilha sonora de Harry Potter e O Cálice de Fogo para vir trabalhar na trilha deste filme. E ele, na minha humilde opinião, fez muito bem, já que o que ele ia fazer no bruxinho seria, mais uma vez, uma variação de seu primeiro trabalho com a série de filme de Harry Potter. Claro que ele ia querer algo mais original depois de três filmes, não?

- Os riquixás (aquela carroça puxada por um homem, uma espécie de "táxi") são os mesmos que foram usados em "O Último Samurai". Porém, foram levemente modificados para se adequar melhor à época desta produção, que é posterior aos acontecimentos do épico com Tom Cruise.

- As atrizes passaram por um "curso-relâmpago" de um mês e meio de como se tornar uma gueixa.

Memórias de uma Gueixa (Título original: Memoirs of a Geisha) / Ano: 2005 / Direção: Rob Marshall / Roteiro: Robin Swicord / Inspirado no best-seller de mesmo nome escrito por Arthur Golden / Elenco: Zhang Ziyi, Michelle Yeoh, Ken Watanabe, Gong Li, Koji Yakusho / Duração: 145 minutos.


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Comentários Atuais:

Faria o texto com menos parêntesis. Quanto à estrutura do texto, creio que continua ótimo. Acredito que este é um texto do qual me orgulho e não precisa de alterações radicais.

Quanto a ter lido o livro Memórias de Uma Gueixa para fins de comparação, posso dizer que já o li, mas quero deixar comentários sobre o livro pra um futuro artigo onde dissecarei o livro e também farei finalmente a comparação com o filme.

V DE VINGANÇA: uma boa surpresa para os pessimistas



Publicado originalmente no site A ARCA no dia 10/03/2006.

Eu quero ser o V quando crescer! ^_^

Por Emílio "Elfo" Baraçal


"Uma visão descompromissada do futuro pelos criadores da trilogia Matrix"

Quando a frase acima apareceu nos pôsteres de V de Vingança, vários fãs do gibi ao redor do mundo ficaram simplesmente revoltados (que ironia) com a possibilidade de os irmãos Andy e Larry Wachowski simplesmente destruírem a adaptação para o cinema de uma das produções gráficas mais aclamadas do mundo. Ok, é impossível agradar gregos e troianos e isso com certeza não ocorrerá, mas aposto que uma coisa vai acontecer: você, se é fã de quadrinhos e em particular, da obra original, provavelmente vai ter uma positiva surpresa. É sabido que apesar do brilhantismo de Matrix, suas sequências, Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, respectivamente, não são grande coisa e isso colocou em dúvida o talento dos dois. Dessa forma, aliada à frase de abertura desta crítica e mais outros variados fatores (como por exemplo, um estreante na direção, mas já falo disso mais adiante), as chances do filme ser uma bomba eram enormes. Eram.

Este que vos escreve não só é um grande fã da história criada originalmente por Alan Moore, como é a minha história favorita escrita por ele. Devido a isso, claro, fiquei muito, mas muito nervoso com o que iria ver. Inicialmente, algumas coisas não estavam me agradando, como a transposição de Evey, uma das personagens principais, para as telonas. Entretando, aos poucos, as coisas foram se encaixando e culminando em um filmaço, tanto para quem leu o gibi quanto para quem é marinheiro de primeira viagem. Inclusive, a técnica de narrativa do roteiro escrito pelos irmãos Wachowski me lembra e muito as técnicas usadas no inteligentíssimo Os Suspeitos. Sim, aquele mesmo que levou o Oscar de Melhor Roteiro Original uns anos atrás e deu um outro para Kevin Spacey de Melhor Ator Coadjuvante.

Bom, como as partes técnicas demandam muito espaço (que veremos depois), vamos à história: em um futuro não muito distante, guerras mudaram radicalmente o panorama político e geográfico mundial. Uma das nações mais afetadas foi a Inglaterra, imersa no caos. Porém, desse caos, um grupo aproveitou e aplicou um golpe de estado, conseguindo o poder. De forma quase subconsciente, esse grupo fez com que a população acreditasse que eles eram a solução. A paz e a ordem seriam trazidas, mas ao custo da liberdade em todos os sentidos. As formas de arte foram praticamente banidas (pois incitam à filosofia, pensamento crítico, enfim, ao questionamento), sendo divulgado só aquilo aprovado pelo governo. No meio desse cenário, surge um homem, conhecido apenas como "V" (o fantástico e macabro Hugo Weaving), que através de técnicas terroristas, começa a atacar os pilares desse sistema ditatorial e subversivo. Porém, em um desses ataques, ele é obrigado a trazer para seu esconderijo uma garota chamada Evey Hammond (a belíssima e quem sabe minha futura esposa - né, Zarko? - Natalie Portman), uma trabalhadora simples e sem grande futuro na vida. Todas as atitudes e ideologias de V acabam sendo questionados por ela, o que faz com que ele se revele uma pessoa única. Ao mesmo tempo em que é um assassino sanguinário, é um homem educado, letrado e galante. O governo, claro, precisa dar cabo dele ao mesmo tempo em que manipula a população na tentativa de minimizar os planos de V. E é durante as investigações que o passado e o plano de V vão sendo revelados até culminar em um clímax envolvente e empolgante.

O governo é opressão, é fascismo e ordem. V é anarquia, transformação e liberdade. Porém, é através de Evey, que nada mais é do que uma analogia da figura do povo em uma personagem que os questionamentos, as dúvidas e as incertezas (ou não) de até onde o ser humano pode ir para buscar sua liberdade, seja individual ou coletiva. "V de Vingança" não promete e nem dá todas as respostas, mas faz todas as perguntas pertinentes e por isso, dessa forma, é muito bem sucedido.

Por outro lado, deve-se agora analisar a coisa toda como adaptação. Em primeiro lugar, "V de Vingança" é uma obra complicada e o tempo disponível de filme são meras duas horas e quinze. Como toda adaptação, cortes foram feitos. Graças ao bom Deus, todas as cenas essênciais estão ali. Isso, quando não transposta de forma literal, ao menos bem adaptada, sem perder o seu significado. O que contribui bastante para isso na verdade não é o número de cenas cortadas, mas sim o fato de terem cortado ou mesclado vários personagens. No original, há uma personagem, Rose, que fica viúva. No filme, ela não dá nem as caras ou ao menos é citada. Em outras palavras, ela não existe na produção. Analisando isso, o longa não sofre do pecado da ultrafidelidade, que geralmente afunda várias adaptações (sim, Sin City é uma rara excessão onde a ultrafidelidade não só não atrapalha como deixa tudo mais perfeito). Outro ponto positivo do corte é que o roteiro pôde focar nas personagens propostas. V, por exemplo, é retratado muito mais como uma ideologia do que como um homem. Uma das razões de ele ser tão invencível é que você pode matar um homem, mas não um ideal. V representa verdade, resistência e individualismo. Entretanto, um passado misterioso, que o faz agir vingativamente, pode condenar seu idealismo político. Até mesmo Evey, que me incomodou no começo (não por culpa de Natalie, que está impecável, mas pelo modo como a personagem foi escrita) por ser bem diferente do original, vai se tornando aos poucos a mulher que todos os fãs da graphic novel curtem.

Outra nítida preocupação foi a ideia de ser um filme acessível a todos, leitores de quadrinhos ou não, sem fazer a história perder sua natureza e isso eles conseguem. Não há ação demais nem é parado demais. O suspense, os plots, tudo é bem dosado. Até o "dagger time" (em alusão ao efeito "bullet time" criado pelos irmãos Wachowski, mas adaptado para adagas) só é usado uma única vez, não sendo um "filhote de Matrix". Inclusive, uma ou outra solução em relação a algumas coisas ficaram melhores do que as ideias de Alan Moore. Sei que provavelmente vão me xingar por isso, mas enfim, se eu consegui enxergar isso, por que não outra pessoa?

Quanto às caracterizações, uma única coisa me preocupava em V: a voz de Hugo Weaving. Tendo sido imortalizado como o Agente Smith da trilogia Matrix, com sua voz característica e inconfundível, fiquei imaginando quando apareceria o momento em que ele diria algo como "É inevitável, Srta. Hammond". Mas não, não é isso que acontece. Quase não dá pra reconhecer a voz de Weaving, que, combinado com maneirismos e certos modos de se portar, dão um toque único a V, já que com a máscara não é possível ver nada de seu rosto, o que limita bastante a interpretação. Porém, Weaving é tão brilhante que nada disso atrapalhou, realizando um ótimo trabalho. V, ainda bem, foi muito bem escrito e interpretado. E não se preocupem, fãs, ele não tira a máscara! Já Evey, é um caso diferente.

Natalie é uma ótima atriz. Claro, deslizes como Star Wars - Episódio III: A Vingança dos Sith existem e nem é culpa dela (maldito seja, George Lucas!), mas aqui houveram alguns probleminhas, que talvez estejam ligados a como a personagem foi escrita e a como o filme possa ter sido dirigido inicialmente. A Evey das telas é muito mais forte do que no gibi. No celulose, ela é mais frágil, mais nova, bem inocente e coisas assim. Aos poucos ela vai passando por mudanças que a tornam mais forte e a fazem enxergar os propósitos e ideias de V, culminando em uma transformação radical. Nas telas, Evey é mais forte, decidida e questionadora. Porém, conforme a película vai caminhando, ela vai se transformando na personagem dos quadrinhos, ao menos da metade para o final, na mesma forma, mantendo uma certa essência. A relação dela com V é 95% perfeita, ainda bem. Digo "95%" porque os roteiristas insistiram em colocar no final, um climazinho de romance entre ela e V, coisa que é inexistente no quadrinhos e completamente desnecessária. Bem, é como disse um amigo meu: "Todo mundo que leu a HQ ficaria muito revoltado... mas o espectador médio - essa divindade abstrata cultuada pelos grandes estúdios nos grandes templos da pesquisa qualitativa de opinião - adora esse tipo de lenga-lenga sentimentaloide..."

Outro personagem que está bem diferente é o inspetor-chefe Finch (através do ótimo Stephen Rea). Nos quadrinhos, ele passa de um cara até certo ponto tranquilo e com vida tediosa e rotineira para alguém que se vê preso na necessidade de pegar V, transformando-se em alguém ora paranoico, ora perseguidor e ora lunático. No longa, é alguém caçador, implacável, parecendo em alguns momentos com o personagem de Tommy Lee Jones em O Fugitivo, mas com mais profundidade. Já um personagem modificado que eu curti bastante foi o Líder (no caso do filme, renomeado como "Chanceler"). Nos quadrinhos, ele interage bastante com seus subordinados, variando entre o grosso e estúpido e o ponderado e estratégico. Já tanto a ideia para o personagem quanto o esquema de interpretação foram mudados. Na película, o Chanceler é muito mais autoritário, mal-educado, exigente e ditatorial, graças à performance do talentoso ator John Hurt. A ideia diferente para o papel foi o simples fato de mantê-lo numa tela de vídeo, agindo com seus subordinados como se estivessem em uma vídeo-conferência. Isso passou uma ótima impressão de que se tratava de alguém intocável, praticamente invulnerável. Lógico que, V mostra que não é bem por aí, hehehe...

A direção de "V de Vingança" ficou por conta do novato James McTeigue. Ele sempre trabalhou nos bastidores, como, por exemplo, sendo assistente de direção na trilogia Matrix. Para um estreante, que ainda por cima pega uma obra complexa pela frente, o cara realizou um ótimo trabalho. Inicialmente, eu senti que tudo estava ainda um pouco perdido, com alguns personagens (como a própria Evey) mal adaptados ou perdidos, mas rapidamente as coisas tomaram um rumo certo, criando o clima perfeito para a produção, que ainda bem, não ficou "pop" demais. Sua "pegada" impôs um ritmo bem cadenciado, sem ser algo só com ação sem cérebro ou meio "geração MTV". Claro que, como fã da obra, fico imaginando essa história na mão de alguém mais acostumado à essa cadeira tão importante, como David Fincher (diretor de pérolas como Clube da Luta), por exemplo. Não só eu, como meu amigo Zarko teria surtos, claro.

Em suma, é um ótimo filme no geral, que poderia ter se aprofundado ainda mais nas questões políticas, mas que trouxe isso na medida necessária para não ficar chato ou tedioso demais e em prol dos que não lêem quadrinhos. As questões foram levantadas, algumas respondidas, outras ficam por sua conta. E lembre-se, meu caro, lembre-se do cinco de novembro...

V de Vingança (Título Original: V for Vendetta) / Ano: 2005 / Produção: EUA-Alemanha / Direção: James McTeigue / Roteiro: Andy & Larry Wachowski / Elenco: Natalie Portman, Hugo Weaving, Stephen Rea, Stephen Fry, John Hurt / Duração: 132 minutos


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Comentários atuais:

Minha opinião sobre o filme pouco mudou. Uma coisa aqui, outra acolá, mas continuo gostando bastante da adaptação. Ainda tenho dúvidas quanto ao final.

Quanto à estrutura de minha crítica, provavelmente faria algo mais conciso e com frases menores, mas sem deixar de lado os argumentos explorados.